A tartaruga vai ao seu ritmo: sem pressa, mas sem pausa

Como uma praga que surge do oceano, centenas de tartarugas emergem das águas do Pacífico para conquistar a areia. Com seus movimentos pausados, se locomovem e buscam
um lugar apropriado para desovar e enterrar seus ovos. Identificado um local em que maré alta não chegue, a tartaruga cava com suas patas traseiras um profundo orifício
circular. Nele começa a depositar seus ovos, cerca de cem.

Após 45 a 60 dias, ocorre uma cena entre o mítico e o mágico. Da areia vão aparecendo centenas de tartaruguinhas que, numa procissão interminável, lutam para conseguir
entrar no mar.

Ficamos espantados com esse espetáculo. Como é possível que esses minúsculos e vulneráveis seres alcancem um peso e um tamanho tão gigantescos? A vida sempre triunfa
e estabelece suas regras.

O que nos ensina essa experiência?

A tartaruga funciona no seu ritmo: sem pressa, mas sem pausa. O importante é realizar bem sua tarefa. Ter o objetivo claro. Ser fiel e seguir o plano proposto. Perseverança
e constância. É fundamental tomar atitudes e não sucumbir à menor adversidade.

* Compromisso com a espécie. Se cada tartaruga não tivesse clara sua missão e sua responsabilidade em relação às demais e deixasse de fazer seu trabalho, mais cedo
ou mais tarde todas desapareceriam.

* Confiança e aposta na vida. A tartaruga faz seu trabalho: toma atitude, semeia sem ver diretamente a consequência do seu esforço. Sim, pode ser que os ovos não
se desenvolvam, mas uma coisa é certa: se ela não os enterrar, será impossível que a cadeia da vida tenha prosseguimento.

O que está acontecendo conosco?

Não havia nada de tão notável nisso; nem Alice achou tão extraordinário ouvir o Coelho murmurar para si mesmo: -Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! Vou chegar muito atrasado!.

Lewis Carroll

Se olharmos à nossa volta, veremos que cada vez nos parecemos mais com o personagem do coelho na obra de Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas, que olhava
permanentemente o relógio e se queixava de não ter tempo. Nossas ruas são preenchidas por um enxame de pessoas que, a toda velocidade, quase se pisoteando, seguem
para algum destino, supostamente com algum objetivo.

Algumas das características principais do mundo atual são a aceleração, a rapidez, a mudança brusca, o imediatismo. Dizer que "não há tempo" é uma expressão muito
generalizada. Tanto que o tempo é considerado um bem escasso e, como tal, muito apreciado: time is money. Não é estranho que se afirme que pode ser um dos recursos
mais valorizados do século XXI.
atrasado!.

No nosso atual contexto, a pressa nos invade. A sensação é de que as tarefas nos excedem e vão além de nossos limites. A urgência provoca uma situação em que quase
tudo tem que estar pronto para ontem. Assim, não se vive no presente, porque o presente "já é passado" e, em consequência, dificilmente se projetará um futuro, porque
ele nunca poderá chegar.

Apesar das invenções modernas, que deveriam aliviar a dureza das atividades cotidianas e proporcionar uma existência mais relaxada, a realidade caminha para o outro
lado. Ao invés de controlarmos e desfrutarmos o tempo, parece que é ele que nos dirige e nos domina. Ao invés de viver, o ser humano "desvive" ou mal vive.

Lamentavelmente, estamos tão imersos no sistema que a situação não nos surpreende. Inclusive, é possível que esses comportamentos nos pareçam os mais normais. Não
é fácil pararmos e tentarmos nos dar conta dos nossos estilos de vida para entender por que fazemos o que fazemos.

Às vezes, ante a impossibilidade de realizar esse processo de auto-observação, o organismo reage e protesta. O corpo é muito sensível e nos emite alertas para que
nos questionemos e mudemos nosso ritmo. Determinadas alterações, somatizações, estresse, cansaço, podem ser sinais de desgaste. O fundamental é que possamos reagir
antes que seja tarde demais.

Trecho retirado do livro A sabedoria da tartaruga : sem pressa, mas sem
pausa, escrito por José Luis Trechera.